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Experimentalismo sem nome, 2014

Bruno Moreschi

Muito se tem o que escrever sobre os trabalhos da artista Julia Kater. Entretanto, as questões suscitadas por suas obras parecem ser inomináveis. Julia não é uma fotógrafa tradicional, tampouco uma simples criadora de colagens. Sua produção situa-se numa zona transitória de meios, técnicas e propostas, mistura típica do experimentalismo que tanto marca a arte contemporânea.

 

Seria demasiadamente simplista afirmar que Julia realiza fotografias. É fato que seu material básico são imagens em papéis fotográficos. Mas isso é apenas seu ponto de partida. Com as fotografias escolhidas, a artista desconstrói a imagem de maneiras variadas e complementares. As composições de suas obras não se dão por regras tradicionais, mas sim, pela justaposições de cenários. Seus registros fotográficos não são reféns da preocupação excessiva da tecnologia, algo que muitas vezes limita o fotógrafo a ser um fanático por novas máquinas e lentes. Julia é uma artista que experimenta na fotografia.

 

Colagem também é um termo limitado para descrever seu trabalho. Afinal, as fotografias de Julia não são de fato coladas. São justapostas. Isso produz algo curioso: até mesmo na colagem, que carrega em si um alta carga de experimentalismo, Julia experimenta. As colagens tornam-se encaixes – união frágil que sugere interessantes metáforas sobre a aproximação de corpos que é, a priori, efêmera.

 

Fotografar sem fazer fotografias, produzir colagens sem de fato colar, atitudes artísticas como essa notabilizam o trabalho de Julia. Faz com que sua produção fuja da obviedade e trilhe um caminho notadamente experimental. Mas não são apenas as técnicas utilizadas por Julia que destoa de grande parte do que se vê nas artes visuais. Com uma carreira artística que dá sinais de crescente valorização, Julia parece também determinada a experimentar nos, digamos assim, próximos passos artísticos.

 

Pode-se esperar que os futuros conjuntos de imagens da artista se tornem cada vez mais coloridos, de fácil conquista. A resposta de Julia é clara. Um de seus trabalhos mais recentes é um pouco usual políptico. As imagens não estão lado a lado, mas sim, uma dentro da outra. E mais: como se não bastasse, tudo ali é só branco. O céu de seus trabalhos anteriores é agora pura brancura. Tão logo isso vai mudar novamente. Essa é a resposta de fato.

 

Mira Schendel afirmava que o experimentalismo muitas vezes se dá no não fazer – o que ajuda a compreender seus desenhos mínimos. Com resultados sempre paradoxais, Julia experimenta ao fazer diferente. Um alívio em um mundo artístico cada vez mais taxonômico, rotulado por clichês. 

Nameless experimentalism, 2014

Bruno Moreschi

 

 

There’s a lot to be written about artist Julia Kater’s work. However, the questionings evoked by her work seem unnamable. Julia is not a traditional photographer, nor a simple collage maker. Her production is set between a transitory zone of means, techniques, and propositions, a typical combination of the experimentalism so evident in contemporary art.

 

It would be too simplistic to affirm that Julia takes pictures. The fact is that her basic material is images in photographic paper. But that’s just her starting point. With the chosen photographs, the artist deconstructs the image in varied and complementary forms. The composition of her works is not done by traditional rules, but by juxtapositions of sceneries. Her photographic records are not hostages of the excessive technologic concern, something that often reduces the photographer to a fanatic for new machines and lenses. Julia is an artist that experiments with photography.

 

Collage is also a limited term to describe her work. After all, Julia’s photos aren’t actually glued together. They are juxtaposed. This produces something curious: even in collage, which in itself carries a high degree of experimentalism, Julia experiments. The collages become connections – a fragile union that suggests interesting metaphors about approaching bodies that is, a priori, ephemeral.

 

To photograph without taking pictures, to produce collages without actually gluing; artistic attitudes like these distinguish Julia’s work. It makes her production escape from the obvious and tread a path that is notably experimental. But it’s not just the techniques used by Julia that set her apart from most of what is seen in visual arts. With an artistic career that shows increasing value, Julia also seems determined to experiment in the, let us say, next artistic steps.

 

We can expect that the artist’s future image groups become more and more colorful, easily achievable. Julia’s answer is clear. One of her most recent works is an unusual polyptych. The images are not side by side, but one inside the other. And there’s more: as if not enough, everything there is just white. The sky from her previous works is now pure whiteness. Soon this also will change. This is the answer indeed.

 

Mira Schendel used to say that experimentalism usually happens in the not doing – which helps to understand her minimal drawings. Always with paradoxical results, Julia experiments by doing differently. A breath of fresh air in an ever more taxonomic artistic world, labeled by clichés.

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